Tontura
Os quadros de tontura podem afetar de modo considerável a qualidade de vida dos pacientes, estando associados, muitas vezes, à insegurança, ansiedade, depressão e medo. O equilíbrio é tão importante para nossa sobrevivência que o labirinto se situa protegido dentro da cabeça, inserido na porção mais rígida do osso temporal, conhecida como rochedo.
O labirinto é parte da orelha, conhecida como orelha interna, e tem duas funções distintas, a audição e o equilíbrio. A porção responsável pelo equilíbrio é conhecida como sistema vestibular, mas o equilíbrio corporal não depende apenas dele.
O equilíbrio é mantido pelo sistema nervoso central, que orquestra informações recebidas:
1. dos labirintos (um em cada orelha)
2. de receptores existentes em músculos e tendões (receptores posturais)
3. da visão.
As tonturas ocorrem quando o cérebro recebe informações desencontradas destas estruturas responsáveis pela manutenção do equilíbrio. Lembremos da sensação vertiginosa que temos quando estamos em uma cadeira giratória e paramos após alguns giros: os olhos informam que a cadeira não está mais girando, os receptores posturais informam que estamos sentados, parados, mas o líquido que preenche o labirinto permanece girando, por inércia, por algum tempo após pararmos. Esta informação de que ainda estamos girando é que faz com que tenhamos tendência a continuar girando o corpo mesmo após a cadeira parar.
Situação semelhante ocorre quando, por processos inflamatórios e/ou infecciosos, o labirinto fica doente e envia informações erradas ao cérebro. O cérebro fica confuso, pois dois informantes afirmam que estamos parados, e outro informante (o labirinto) informa que estamos nos movendo. Se esta alteração do labirinto for súbita, temos a crise vertiginosa, geralmente acompanhada de sintomas como náuseas, vômitos, sudorese, palidez, taquicardia e sensação de desmaio. Na crise vertiginosa (labirintite) não ocorre perda da consciência. Após alguns dias, se o labirinto não se recuperar, ou até que ele venha a se recuperar, o cérebro inibe este labirinto doente e assume o controle do equilíbrio. O paciente restabelece seu equilíbrio, mesmo que o labirinto nunca mais se recupere, por este mecanismo conhecido como compensação central.
Em alguns pacientes, o labirinto se recupera, mas pode novamente ter problemas, ocorrendo crises vertiginosas de repetição. Estes pacientes geralmente têm labirintites, propriamente ditas, com sintomas também da parte auditiva do labirinto, ou seja, zumbido e perda auditiva, que também melhoram, mesmo que parcialmente, ao acabar a crise.
As perturbações do equilíbrio, conhecidas como tontura, podem ser rotatórias (vertigem) ou não rotatórias (instabilidade, flutuação, sensação de queda, desequilíbrio ao andar). Como já citado, o equilíbrio não depende apenas do labirinto, ou seja, nem toda tontura é decorrente de uma labirintite. Dissemos também que o desequilíbrio das labirintites pode ser compensado pela ação cerebral. Porque, então, costumamos dizer que muitos idosos "têm labirintite", e por que o cérebro deles não restabelece o equilíbrio? Se observarmos bem, muitos dos indivíduos idosos têm uma vida bastante sedentária, com fraqueza muscular e dores articulares. Os informantes destes músculos e tendões se tornam menos confiáveis. Além disso, a visão do indivíduo idoso muitas vezes está comprometida, o que dificulta mais a conquista de um equilíbrio perfeito. Para completar, o sistema nervoso central também tem dificuldades em funcionar adequadamente, principalmente se houver problemas circulatórios. Geralmente, portanto, os indivíduos da terceira idade não têm labirintite. Eles têm um desequilíbrio que pode ser revertido com medidas adequadas como atividade física, tratamento de deficiências visuais e correção de problemas circulatórios em geral.
Hoje em dia, não são apenas os idosos que têm vida sedentária e má-circulação sanguínea. O quadro vertiginoso pode ser devido a problemas posturais (principalmente de coluna cervical), a crises de pressão alta, a descontrole do colesterol, triglicérides e glicemia, fatores que podem ser corrigidos se adotarmos uma vida mais saudável.
Outros fatores não labirínticos que podem provocar tontura são as alterações hormonais, como alterações do funcionamento da tireóide e flutuações de hormônios femininos, como na gravidez, no ciclo menstrual, na menopausa e com uso de pílulas anticoncepcionais. Devemos, também, tomar cuidado com o abuso de cafeína em nossa dieta, pois ela é um poderoso estimulante labiríntico, podendo provocar tonturas. A cafeína é encontrada, além do café, em chá preto, chá mate, refrigerantes, chocolate. Medicamentos que inibem o apetite podem conter anfetaminas, também estimulantes labirínticos. Para evitar vertigens, o tabagismo também deve ser evitado, assim como a ingestão excessiva de álcool.
O paciente vertiginoso deve procurar atendimento médico para investigar a causa do sintoma. A história clínica e o exame físico podem afastar algumas causas e sugerir outras. Dependendo das hipóteses, podem ser solicitados exames de sangue e/ou o exame otoneurológico, que analisa as funções da audição e do sistema vestibular. Muitas pessoas têm medo deste exame pois parte dele, consiste em estimular os labirintos para estudar seu funcionamento. Esta estimulação provoca tontura, mas é uma tontura de curta duração, decorrente de um estímulo controlado. O paciente bem informado, ciente de que a tontura vai passar logo, suporta facilmente a realização do exame.
O tratamento deve se basear na identificação da causa específica da tontura. É imprescindível definir se a tontura é devida a uma doença primariamente da orelha, neurológica ou no contexto da medicina geral. Existem medicamentos para aliviar a crise e para prevenção nos quadros que se repetem. Existem exercícios específicos para reeducar o equilíbrio corporal (reabilitação vestibular) e existem tratamentos para sistemas não relacionados diretamente ao equilíbrio, mas que, em caso de mal-funcionamento, podem ter a tontura como sintoma.
É importante salientar que não se deve tomar remédios "para tontura" para sempre. Alguns destes remédios, a longo prazo, principalmente em idosos, podem desencadear quadros depressivos. Deve-se procurar a causa da tontura e tratar esta causa, e não a conseqüência.